- Oi! – Eu disse em seu ouvido.
- Senti falta desse sorriso lindo! – Ela disse no meu ouvido
também. Sorri mais.
Sentamos-nos no sofá
e ficamos abraçadas. Ela é a única pessoa que talvez possa me conhecer melhor
do que eu mesma e por isso ela está tão curiosa. Hoje eu estou bem, mas a
angustia anda comigo e ela sabe muito bem, ok, precisamos conversar.
A puxei para a área
da casa e nos sentamos nas poltronas que dão vista a toda Los Angeles coberta por uma fina camada de gelo, nada que
se compare ao centro ou as nevadas fortes que deram dias atrás.
- Você decidiu? – Ela finalmente cortou o silêncio.
Suspirei profundamente.
Falar sobre isso era a última coisa que eu queria, mas não posso fugir.
- Sim, eu decidi! – Respondi e Tory me olhou. Sei o que ela
está pensando. – Eu vou!
- Tá, e... Já contou para ele? – Seu olhar de súplica
implorou por uma resposta positiva, mas não.
- Eu não sei como, toda vez que eu tento ele abre um sorriso
e me desarma totalmente. Não posso fazer isso. – Eu disse com as mãos no rosto.
- Eu não acredito Lívia! – Ela disse alto e bateu com as
mãos na perna.
- Ei, shiiiu! Eles vão ouvir!
- Ei, shiu?! Não Lívia! Isso não é certo! Olha o tanto que
essas pessoas fizeram por você... Eu sou sua amiga, sempre vou te amar
independente, mas acho que isso não é certo! – Ela disse séria.
- Eu sei que não, mas não posso simplesmente ir ali e
estragar o Natal do Bruno. – Tentei explicar.
- Desde quando você está decidida? – Ela perguntou.
- Faz três dias! – agora sim ela vai se revoltar.
- Okay, tudo bem! Faça o que você quiser e saiba dos riscos
que corre. Eu não posso fazer isso por você, mas independente disso eu sempre
estarei aqui! – Ela disse. Levantou-se e me fez levantar também para darmos um
abraço.
- Obrigada! – Eu disse.
- Hum-hum! Atrapalho? – Me assustei com o Ryan fazendo voz
grossa.
- Não! – Responde a Tory. – E aí? – Continua. É, sobrei aqui.
- Vamos jogar dorminhoco? – Ele pergunta.
- Opa, claro!
Entramos e a mesa já
estava posta, as cartas separadas apenas esperando por nós. Confesso que não
estava muito a fim de jogar, mas como todos vão jogar eu não quero sobrar. O
jogo funciona da seguinte forma: Foram separadas as trincas de letras e números
conforme a quantidade de pessoas. Quem ficar com quatro cartas deverá começar e
para bater deve-se formar uma trinca, depois de pronta abaixe as cartas na mesa
discretamente. O último jogador a abaixar as cartas ganhará o título de
dorminhoco e deverá beber um copinho de licor de pimenta.
- Eu aposto que o Dwayne vai beber, porque o que tem de boca
não tem de olhos! – Bruno soltou sua primeira piadinha, mas ninguém riu.
- Você é tão engraçado que nem repara que daqui você é o que
tem o olho menor! – Dway o responde na maior calma e o Bruno lhe dá amigavelmente
o dedo do meio. Todos riem.
Cindia que preferiu cuidar das crianças começou o jogo dando as cartas e eu como era a última a
receber comecei. Minhas cartas estavam todas diferentes então nem me preocupei
em escolher, apenas entrei uma carta ao Phil. O jogo prosseguiu muito bem, toda
hora que alguém dormia a sala era tomada por gracinhas e risos.
- Eu disse que o Dwayne ia dormir! – Bruno disse sem ao
menos perceber que ele era o único que não tinha abaixado às cartas.
- Bruno, boca fechada não entra mosca! – Tiara disse e todos
caíram na risada.
- Não vale, eu estava falando! – Ele disse beiçudo.
- Você é tonto por natureza cara, não esquenta! – Ryan disse.
– Bebe aí.
Às risadas eram
altas e a bebida forte, eu sentia que minha cabeça ia estourar, parecia que estava
de enxaqueca e só bebi quatro copinhos. É, era só o que me faltava. Pedi desculpas por abandonar o jogo e
fui para o quarto do Bruno. Tomei um remédio e deitei com as luzes apagadas e
um travesseiro no rosto.
Fazia um ano que eu
não sentia essa dor tão forte, mas também eu nunca fiquei num ambiente com
tantas risadas altas e bebida forte, era meio óbvio que isso aconteceria. Que
merda!
Ouvi a porta se
abrindo e senti alguns passos leves até a cama, retirei o travesseiro do rosto
e o Bruno estava bem do meu lado, sorri amarelo.
- Como você tá? – Perguntou e imitou minha pose na cama:
barriga para cima e mãos cruzadas.
- Com dor! – Reclamei baixinho.
- Quer um remédio? Quer ir ao médico?
- Não, obrigada! Isso deve ser da bebida, risadas altas e o
emocional afetado. – Eu disse. Fazia todo sentido e eu só me lembrei agora.
- Quer que eu fique aqui com você? – Pergunta ele agora me
olhando.
- Não, vai lá aproveitar o jogo e vê se não dorme! – Sorri.
- Se precisar, é só chamar! – Bruno depositou um beijo na
minha bochecha e saiu.
No momento que a
porta foi fechada um nó tomou conta da minha garganta. Porque ele tem que fazer
isso? Tá, ele não tem culpa das decisões que eu tomo, mas toda vez que ele age
carinhosamente eu sinto totalmente errada, na verdade eu estou, mas também
acredito ser o melhor... AH! Eu vou enlouquecer.
- Pai, queria o senhor aqui comigo! – Eu disse baixinho como
se ele estivesse próximo de mais para eu falar alto. Coloquei o braço nos olhos
e engoli as lágrimas.
Estou errada e
perdida. Talvez pareça que eu estou me fazendo de coitadinha, e antes fosse, mas
eu realmente estou perdida. A pessoa que eu mais amava foi e eu não aprendi o
suficiente para andar com as minhas próprias pernas. Sinto-me uma criancinha
com medo de levantar e acender a luz do quarto por causa dos alienígenas. É
mais complicado do que parece.
Nada é mais como
antes. Aquela casa parece maior, mais sombria e nostálgica do que qualquer outro
lugar. O brilho que você nas coisas quando está feliz não é tão forte quanto agora,
é como se estivesse tudo fosco e sem graça. Eu não quero mais viver dentro
daquela casa e passar todos os dias pela porta do seu quarto sem poder lhe dar
um bom dia. E é por isso que tomei tal decisão, outro rumo. A minha Los Angeles não será mais a mesma.
Me manter fechada é mais prático e eu tenho medo de talvez nunca mais me recuperar.
Acabei pegando no sono em meio aos pensamentos que mais me assustam. Acordei com vozes no quarto.
Acabei pegando no sono em meio aos pensamentos que mais me assustam. Acordei com vozes no quarto.
- Cala a boca, vai acordá-la. – Parecia o Bruno.
- A Culpa não é minha se você me deu um banho de licor de
pimenta. – Ryan respondeu e os dois riram baixinho. Acho que estavam escolhendo
uma roupa no closet.
- Pronto, some! Vou chamá-la para comer. – Bruno disse.
- Awn, você fica lindinho assim todo preocupado! – Ryan
debochou.
- Vai tomar no cu Ryan e já aproveita para sair daqui!
- Que bicha estressada! – Ryan retrucou e eu acabei rindo um
pouco, mas não o suficiente para ser notada.
Tirei o braço do
rosto e virei para de lado.
- Não quis te acordar! – Ele diz.
- Já estava na hora mesmo! – Levantei. Me espreguicei e fui
ao banheiro.
Passei uma água fria
no rosto e penteei os cabelos, dei uma desamassada na roupa e voltei para o
quarto.
- Está melhor? Quer conversar? – Ele pergunta.
- Vou ficar! Amanhã. – Eu falei. Talvez assim eu consiga
tomara coragem de conversar com ele.
Descemos para a sala
e alguns dos meninos já estavam se despedindo. Já era hoje de jantar, fiz
tantas coisas que nem vi o tampo passar, principalmente o cochilo. Resolvemos
pedir lanches para todos, logo em seguida as meninas iriam para a casa da Jaime
com o Eric. Elas ficariam lá até o ano novo e depois iriam todos a Las Vegas
para assistir o show de réveillon da banda.
- Você vai né loirinha? – Ryan pergunta. Esse apelido pegou
graças ao Phil.
- Vamos ver! – Sorri.
Nossos lanches
chegaram, eu e a Tory arrumamos a mesa e logo todos se puseram a ela. A fome
era tanta que quase nem conversaram. Pres me ajudou a arrumar a cozinha, que
era coisa rápida e o resto das meninas foram organizar suas coisas para ir
embora.
Despedimos-nos e
restou apenas eu e o Bruno na casa, todos já tinham ido, foi até engraçado eles
se apertados nos carros para não ter que ligar para um táxi, enfim, é hora de
dormir.
- Bruno, vou me deitar no quarto de hóspedes. – Não era
preciso dormirmos juntos novamente com todos esses quartos sobrando.
- Não! Quero que durma comigo de novo. – Ele disse do sofá
enquanto eu estava escorada na escada.
- Tem quartos sobrando, vai
aproveitar a sua cama!
- Mas... Tá, ok. – Finalmente ele concorda meio contrariado,
mas concorda.
- Amanhã conversamos. Boa noite! – Lhe atirei um beijo com
as mãos e subi.
Peguei minhas coisas
em seu quarto e levei para o do lado. Passei uma água quente no corpo, escovei
os dentes, vesti o pijama e me deitei.
Ótimo proveito do ar quente ligado. Ferrei no sono em questão de
segundos.
#COMENTEM