Às semanas passaram
rapidamente, e por quê? Porque a Lívia aqui está de “folga”, aí tudo passa de
pressa! Nos últimos dias conversei e me encontrei com o Bruno normalmente, mas
ele estava meio desanimado, distante, talvez por causa do frio, sei lá, não quis
invadir a privacidade dele, até porque ele sabe que quando precisar pode
conversar comigo então não há necessidade deu correr arás dele, enfim.
Ontem jantamos eu,
a retardada da Tory e o Scott. Foi super divertido, nos aquecemos com um vinho
e lareira no restaurante de tacos mexicanos, nada a ver uma coisa com a outra,
mas foi o lugar mais quentinho e com comida diferente que achamos além de
nossas próprias casas.
Já hoje é dia quinze
de Dezembro e significa o que?! Que meu pai chega hoje! É eu estou morrendo de
saudades dele, mesmo que tenhamos nos falado por telefone todo esse tempo,
nunca é a mesma coisa. Falei com ele há
uns minutos atrás, ele chegará por volta de uma hora da tarde, finalmente!
Eu estava animada,
porém atrasada, eu tinha que preparar um almoço para esperar o Bruno, ele disse
que viria aqui, e já são onze horas! Corri para a cozinha e fiquei fuçando nos
armários até decidir o que fazer. Optei por frango grelhado ao molho,
torradinhas e salada. Eu não sou uma boa cozinheira, mas frango grelhado é
fácil de mais. Grelhei os bifes de frango e preparei o molho, na verdade uma
mistura de tomate, cebola, maionese, pimentão e alho batido. É só bater tudo e
pronto. O frango já estava pronto e coberto com o molho, só faltava o requeijão
nas torradas. Quando fui passar o requeijão na primeira torrada a campainha
tocou.
- Oi! – Eu disse assim que abri a porta.
- Oi! Que cheiro bom! – Ele respondeu entrando.
- Frango grelhado, torradas e salada! Gosta? – Perguntei
enquanto voltava para a cozinha.
- Se for tão bom quanto o cheiro é bem provável que sim! –
Diz ele e se escora na bancada. – Trouxe panquecas de morango com chocolate do
Mc Donald’s. – Ergueu a sacola. – Tem que aquecer depois. – Continuou.
Agradeci e foquei
no que estava fazendo, como disse não sou muito boa na cozinha então se eu não
prestar atenção em tudo que estou fazendo vou esquecer do frango aquecendo no
forno. Terminei as torradinhas e o frango. Arrumei tudo nos determinados pratos
e coloquei na bancada, peguei o refrigerante e me sentei na frente do Bruno.
- E aí? Aprovou? – Sorri.
- Wow! Uma delícia! – Ele disse de boca cheia e eu ri.
- Bruno, a salada! – Bati a mão na testa, esqueci-me de
lavar as coisas.
- Não vai fazer falta! – Continuou comento.
Bruno POV’S
Eu tinha decidido, seria hoje depois do
almoço, tinha tudo em mente, ou quase tudo. Depois do dia que ela dormiu lá em
casa e disse que era melhor não nos aproximarmos mais eu senti meu coração estremecer
e nós cada vez mais distantes um do outro, por isso fiquei mais na minha
durante esses dias, tentei esquecer os ”porquês” e os “mas” para tomar uma
atitude decente.
Nós almoçamos
tranquilamente, o frango grelhado ao molho com torradas havia ficado muito bom
e combinava com um bom vinho, mas refrigerante também é bom, talvez nem seja
por combinação e sim por nervosismo da minha parte! Minhas mãos estão suando e eu estou meio
apavorado, todos meus outros namoros não foram assim, digo, nunca me senti uma
vara fina prestes a cair com o vento! É idiota, eu sei, mas é verdade carai!
Fomos para sala
assistir televisão e Lívia puxou assunto:
- Tá tão misterioso, o que anda aprontando? – Como é que
essa mulher sabe das coisas? Como? Expliquem-me pelo amor de Deus, isso
realmente não esta facilitando!
- Eu? – Ri. – Nada! E então, hora de doce não? – Mudei de
assunto.
- Uma vez formiga, sempre formiga! – Resmungou e eu ri.
Ela foi para cozinha
e eu fiquei mexendo nos canais da TV como quem não quer nada, acabei deixando
no noticiário, mas nem prestei atenção no que estava passando, minha mente
girava em torno do que eu falaria que eu ainda não sabia! Peguei a caixinha do
anel e escondi do meu lado, assim quando ela voltasse não o veria antes da
hora. Sequei a testa pela milésima vez e esperei ela voltar.
Ouça a música se
quiser: Thriving Ivory - Flowers for a ghost
Quando se aproximou do
sofá ela deixou a bandeja toda cair no chão e suas mãos foram à boca e seus
olhos lacrimejados fitavam a TV e só então eu prestei atenção no que estava
acontecendo. A apresentadora dizia:
“O acidente do Voo 121
com destino a Los Angeles na Califórnia com previsão de chegada à uma hora da
tarde não tem causa definida, mas acredita-se que tenha sido por causa da
nevada forte. Os corpos não foram identificados, mas os documentos recolhidos
no local e no próprio aeroporto foram enviados para o Departamento de Polícia de
Los Angeles para que os familiares possam reconhecer os documentos dos
passageiros a bordo. Logo mais voltaremos com melhores informações. Californianos
e Nova-iorquinos estão de luto!“.
Pulei do sofá e
agarrei-a em meus braços! A cada lágrima que eu via cair de seus olhos eu
sentia todos os sentimentos em relação a minha mãe voltar, como se eu fosse
apenas um jovem havaiano indefeso, mas eu não podia...
A convenci de ficar
no quarto enquanto eu ia lá ao departamento, mas antes que eu saísse ela ligou
para o Antony, cada vez que chamava era mais angustiante, eu via a tristeza no
silêncio em cada segundo que passava e ele não atendia, até por fim a ligação
cair e o desespero da Lívia ser pior. Fiquei por mais um tempo ali a acalmando,
dizendo que todo ficaria bem e saí.
Sinto-me perdido,
hoje tinha tudo para ser um dia inesquecível para nós, seria o nosso começo e
agora eu já não sei o que fazer, a não ser dirigi rapidamente até o departamento
de polícia. Já na recepção pedi para ver os documentos das vítimas do acidente.
Eu tinha uma pontinha de esperança de não ver seu nome ali, vasculhei toda a
folha e não o vi, respirei aliviado e uma moça chamou minha atenção.
- Desculpe, a lista foi atualizada! – Me entregou o papel. Vítima 84: Antony Kendrick.
Meu chão se abriu,
larguei a folha e voltei para dentro do carro rapidamente, escorei a cabeça no
volante e senti algumas lágrimas fujonas passarem por meu rosto enquanto ficava
imaginando o que dizer para amenizar a dor da Lívia. Eu não queria ter que dar
essa notícia a ela, não queria ter que ver seus olhos tristes me pedindo
socorro, eu não queria ter que dizer que ela nunca mais verá seu pai! EU NÃO
QUERO!
Fiquei enrolando
dentro do carro até tomar coragem e voltar. Minha mente buscava as melhores
palavras para poder dar essa notícia, mas era em vão, nada dava certo e só o
que eu queria era o fazer voltar assim como as imagens dos dois juntos em minha
memória. Tá tudo errado.
Já na casa dela, do
pé da escada pude ouvir seu choro e quanto mais eu me aproximava mais alto
ficava e mais meu peito doía. Ela estava deitada abraçada a um porta retrado
deles que ficava sobre o criado mudo dela.
- Me ligaram do aeroporto.
– Falou enquanto eu me aproximava da porta. – Nenhum dos passageiros
sobreviveu. Sento e oitenta pessoas. Meu pai. – Disse em grandes pausas.
- Vai ficar tudo bem, sei que é difícil de acreditar. Só
sairei daqui quando esse sorriso voltar! – Me abaixei ao lado de sua cama e
passei minha mão na lateral do seu rosto.
- Ele não vai voltar Bruno! Não vai! Eu estou sozinha daqui
em diante! Sozinha! – Disse agarrando o retrato com mais força.
- Não fale uma coisa dessas, você nunca estará sozinha, porque
sempre estarei por perto para lhe ajudar! Sempre! Sairemos dessa, juntos! –
Afirmei e ela negou com a cabeça.
- Preciso ficar sozinha Bruno! – Me ignorou, levantou-se da
cama e saiu do quarto em direção ao do pai.
Suspirei e me sentei na cama dela.
Será muito pior do
que tudo que eu imaginei, sei que ela não vai aceitar pelo fato de estar
“sozinha” agora, e eu? Estou tão perdido quanto, não sei o que fazer, não quero
sufocá-la, mas não quero ficar longe porque sei que no fundo às vezes só o que
queremos é um abraço, mas com a Lívia é tudo diferente, tudo!
[...]