Lívia POV’S
Já é o quarto
dia que estou aqui, com o Bruno, e todos os dias eu penso em seriamente ir para
o Hotel, ao menos lado que não serei tratada ora friamente ora carinhosamente.
Eu não sei qual o problema desse homem e olha: desisto de tentar descobrir.
Ouvi barulho
na cozinha e resolvi levantar, eram dez da manhã, provavelmente o Bruno estaria
tentando fazer algo para o café. Vesti uma blusa de manga comprida preta em
gola v e um shortinho jeans de ficar em casa. No banheiro fiz minha higiene e
prendi meus cabelos e desci.
- Precisa de ajuda? – Perguntei chegando à cozinha,
parece que alguém tentava fazer panquecas.
- Está tudo sobre controle! – Ele disse colocando a
massa na frigideira e então algo dá errado, a massa forma uma bolha e estoura o
sujando e talvez queimando.
- Bruno! Deixa eu te ajudar, olha aqui! – Digo mostrando
a ele sua blusa coberta por massa.
-Ainda bem que sou um ótimo cantor! – Resmunga baixo e
tenta limpar-se com um pano.
- Modesto e convencido também! – Mostro-o língua. –
Arruma a bagunça aí enquanto pego outra blusa para você!
- ACHO QUE VAMOS AO STARBUCKS! – Ele grita quando e já estava na
metade da escada, solto uma gargalhada e continuo meu caminho.
Vou até seu closet, pego
uma camisa qualquer e quando estava saindo, algo brilhou no chão e me chamou
atenção: um solitário dourado. Será que ele está prestes a se comprometer com
alguém? Instantaneamente meu coração se apertou, como se realmente devesse,
droga! Encostei a porta e desci com a
camiseta e o anel. Respirei fundo e falei:
- Estava no chão do seu closet! – Entregando-o o anel e em
sequência a camiseta.
- Ah... Era... Eu, hã...! – Ele tenta falar algo mas desiste, seu
semblante muda e ele dá um longo suspiro.
- É lindo! – Respondo simplesmente. Passo ao seu lado e vou tentar
terminar de fazer as panquecas. Encho uma concha de massa e antes que eu
colocasse na frigideira, ele fala:
- Era para ser seu. Hã... No dia que descobrimos sobre seu pai,
meu plano era almoçar com você e te pedir em namoro, claro, você estava sem
cabeça e eu adiei então você foi embora sem deixar que eu ao menos tentasse
protestar. Eu adiei isso por tempos e quando achei que estava pronto fui
impedido e ele está aqui, até hoje, fazendo lembrar-me do quanto eu queria
isso. – Bruno despeja as palavras de pressa, como se não conseguisse falar
daqui um minuto e eu, bom, fiquei sem reação, meu coração acelerou e eu
derrubei toda a massa no lugar errado.
- Sinto muito! – Foi só o que eu disse ainda de costas para ele tentando esconder o nervosismo.
- Não sinta! – Ele faz eu virar para ele. – Eu estive por muito
tempo apaixonado pala minha melhor amiga e tinha certeza que ela também, mas
tinha medo de se entregar, daí hoje, eu estou com ela sem ao menos saber se ela
ainda se importa! Nós agimos como desconhecidos e, eu estou enlouquecendo! Eu
estou apaixonado pela minha melhor amiga!
- Bruno, eu...
- Eu não queria fazer você se sentir desconfortável, não iria
dizer isso agora e nem quando diria, mas aproveitei o momento, retirei um peso
das minhas costas e agora vou fazer o que eu deveria ter feito a mais de um ano
atrás. Lívia, aceita ser minha namorada? – Bruno fitava meu rosto inteiro
seriamente, eu congelei .
Éramos melhores amigos...
- Não confunda as coisas, por favor, olha em volta, olha a vida
que temos agora! Eu tenho casa, trabalho em Carolina, você tem fãs, carreira e
uma turnê, acha que isso pode dar certo? – Eu não tinha o que falar, apenas na
minha cabeça, isso era uma coisa impossível!
- Quer dizer que se estivesse aqui ainda aceitaria? – Seus olhos
estão fixos nos meus. Pisco algumas vezes pensando no que dizer, mas ele
continua. - Lívia, eu estou pergunto se aceita namorar comigo, e não as coisas
que pode nos impedir, caramba, isso resolvemos depois, apenas pensa na sua
felicidade, acha que gostaria de ser ver sendo minha? Gostaria de reatar de
outra forma toda aquela amizade que tínhamos? A intimidade, companheirismo,
confiança... Tudo! – Gostaria, meu
coração grita.
- Eu não sei, eu não sei Bruno! – Digo atordoada com tantos
pensamentos, não consigo olhar em seus olhos por muito tempo e mais lágrimas escorrem.
- Só me responde uma coisa: Você era feliz com a nossa relação de
amizade?
- Se não fosse, você nunca teria sido meu melhor amigo! – Elas continuavam a escorrer dos meus olhos e ele se aproximou, colocou uma de suas mãos em meu
rosto para secá-las.
- Então, porque acha que não daríamos certo? Poxa, acha que eu não
seria capaz de fazer as coisas certas? Eu só quero estar bem e querendo ou não
você faz parte disso, e eu sei que entende o que eu estou falando, então
facilita as coisas, somos melhor que isso. – Sua respiração próxima de mais, seu toque
macio de mais, sua sinceridade de mais, seus sentimentos de mais, tudo de mais
estava me deixando louca. – Tudo bem, eu te entendo, ao menos eu retirei um
peso das minhas costas, ao menos você sabe de tudo que estava entalado dentro
de mim, e se preferir não aceitar, eu vou seguir em frente, lentamente, assim
como quando foi embora...
- Bru... – Eu entrelacei nossas mãos e cortei a distância que
tinha entre a gente, dando-lhe um selinho. – Eu não tenho certezas, mas ao seu
lado, mesmo que indecisamente elas aparecem, e eu posso tentar! – Sorri, ele
também tocando meu nariz com o seu.
- Eu me sinto a Katy Perry com foguetes dentro do meu peito! – Ele
diz e ri gostosamente.
- Vamos com calma, okay? – Eu pedi e ele assentiu com a cabeça.
[...]
- Aonde vai? Posso ir? – Bruno pergunta erguendo a cabeça assim
que me vê descendo as escadas, toda “arrumada”.
- Não! – Respondo firme.
- Poxa, é sério? – Ele torce o nariz.
- É melhor Bruno...
- Eu fico quietinho e posso ser uma ótima companhia! – Lembro de
uma criança, mas não, é só o Bruno falando.
- Eu dirijo, você fica quieto e não me segue, okay? – Pergunto ele
fecha a boca com um zíper invisível.
- Ao menos o airbag é novo e o cinto é bom! – Ele resmunga baixo
suficientemente para eu ouvir.
- Quieto! – Repreendo-o. Ele mostra língua e me abraça enquanto
íamos até o carro. Não estou acostumada com isso, mas ignoro.
Mesmo eu prestando atenção
no transito via que o Bruno às vezes olhava para mim e mostrava um sorriso
lindo, diferente de todos que eu já vi, às vezes ele olhava para a sua mão e
depois para a minha, isso me fazia ter vontade de rir, mas mantive-me quieta. Não
muito tempo depois nós chegamos, eu desliguei o carro, retirei o cinto e me
virei para o Bruno.
- Fica aqui tá? – Pedi delicadamente.
- Tudo bem! – Ele disse, eu lhe entreguei suas chaves e antes que de eu descer ele segura meu pulso. – Se cuida! – Falou e me deu um selinho, sorri
e desci.
A cada passo que eu dava e
me aproximava da entrada eu sentia uma arrepio, e uma sensação diferente. É tudo
recente, mesmo depois de um ano. Eu não tinha uma exigência de flores e meu pai
também não, então comprei uma toda branquinha e segui entre todas as lápides
até achar a sua.
Sentei-me ali e depositei
as flores. Eu não tinha o que falar, apenas chorei com um sorriso nos lábios.
Nunca senti tanto orgulho de uma pessoa, mesmo que ele ficasse mais trancado no
escritório do que qualquer outro lugar, eu não o julgo, não mais, eu sei que
era o que ele amava fazer. Aprendi que temos que ser gratos por fazermos o que
gostamos.
Eu fitava seu nome e sua
frase “sigo em um lugar melhor, o meu lugar melhor... E você evolui sozinha, é
a sua chance, meu papel acabou”. Em um determinado momento da vida, ele leu
isso em um livro e sempre me dizia, mas no tom do futuro, então modifiquei e
decidi que essa seria a frase, ninguém precisaria entender, sempre foi eu e
ele, então nós sabendo, basta!
- Desculpe ficar aqui calada, mas eu não tenho o que falar, é o
que acontece quando alguém faz da sua vida a de outra, eu sou totalmente grata.
Mesmo doendo às vezes, por você ter ido, sei que isso foi bom, sei que de alguma
forma que não tenha descoberto ainda, isso foi o melhor. Ah pai, eu estou
feliz, apenas com saudades, e uma coisa que eu tenho é consciência e estar aqui
agora é totalmente diferente de quando estive lá com a mamãe, lá eu estava
triste, só reclamava, chorava e me lamentava, enquanto eu o tinha, agora eu não
lamento, só agradeço, porque né, mesmo com tudo, estou feliz, tocando a minha
vida... – Sorrio ao lembrar-me do Bruno. – Bom... Eu não sei se você
acha certo, mas eu acho que sim, decidi vender nossa casa, ela é grande e
solitária de mais para mim, talvez outra família possa ser feliz lá como nós
fomos, não quero desperdiçá-la. Prometo que vou vender a pessoa certa, e sobre
nossas coisas, eu sinto muito, eu não tenho onde colocá-las, não tudo, mas
darei um jeito, okay? Bom, eu só vim aqui te agradecer por tudo, dizer que
estou bem e que sinto sua falta, mas vou levando. Ah, diga a mamãe, que eu
estou feliz agora, sei que vocês estão juntos, de novo, um dia, nós estaremos juntos,
todos os três! Eu amo vocês! Preciso ir! – Sorri engolindo as lágrimas, ele
está bem, feliz e bem acompanhado, eu não preciso temer nada.
Levantei do chão, limpei
minha roupa e olhei uma última vez para sua lápide. Sussurrei: “eu amo vocês, para sempre”, larguei um
beijo no ar como fazia quando saia de casa e segui andando até o carro.
Mesmo o tempo fechado e
uma brisa fria que balançava meus cabelos, eu não tirava o sorriso e, não, não
sou louca e muito menos egoísta, estou grata, e a melhor forma de mostrar a
gratidão é sorrindo, agradecendo pelo que se tem.
Ergui meu olhar e Bruno
estava escorado lado de fora do carro observando eu caminhar lentamente, sorri
para ele que abriu os braços e eu me aconcheguei ali.
- Está melhor? – Pergunta ele em meu ouvido.
- Com certeza! – Disse apertando meus braços em sua cintura ele em
minhas costas, logo em seguindo dando-me um beijo no topo da cabeça. Fomos para
sua casa.
- Tem planos para hoje? – Ele pergunta após se jogar no sofá.
- Não fazer nada conta como plano? – Respondo-o com outra pergunta
com a mão apoiada no queixo.
- Se me incluir nisso, sim, com toda certeza! – Ele fala e eu dou
uma gargalhada. – Vem cá! – Ele bate as mãos no sofá e eu me sento ao seu lado.
– Sobre a distância, não se preocupe com isso.
Eu posso ir sempre que quiser para lá, durante ou nos finais, assim como
você vir para cá, pode tirar férias. Podemos nos falar via internet e telefone.
Eu posso dizer te dizer bom dia todos os dias se for te deixar melhor, eu posso
mostrar que vale a pena, tá? Confia em mim? Será capaz de me ajudar nisso?
- Claro que sim! – Digo. – Sempre que precisa ou não precisar! –
Sorrio. Ele enfia a mão no bolso e tira o anel, mais cedo eu não dei chance
dele poder confirmar as coisas, mas agora, tenho certeza que não será só eu, será nós então
podemos sim confirmar as coisas.
- Obrigada por me mostra como se apaixonar de novo! – Diz ele e
põe o anel em dedo.
Ficamos em silêncio apenas
curtindo um o carinho do outro, sem amasso, apenas afeto, mas sempre tem algo
que interrompe o que é bom, e dessa vez foi o celular do Bruno!
- Phil diz: eu não acredito que a loirinha não decidiu ainda fazer
a nossa janta, poxa, eu to com saudades dela... Bruno, põe uma pressão aí. –
Bruno leu uma mensagem em voz alta me fazendo gargalhar e sacudir a cabeça
negativamente. – E então, ideias?!
- Acho que se não fizermos o jantar, Philip terá um treco! – Digo e
ele concorda, responde o amigo e continuamos o que estávamos fazendo: nada!