Acordei com o quarto
totalmente claro e isso me deu uma forte dor de cabeça. Retirei os braços do
Bruno de cima de mim e fui até a janela fechar a cortina, me espreguicei
enquanto espiava o lindo dia. Fui ao banheiro, fiz minha higiene e desci as escadas,
ainda tinha que procurar um bendito comprimido para a dor.
Revirei os possíveis
lugares e nada, nem vestígio de algo para dor de cabeça e nem nada de bom para
comer, a única saída era espera o Bruno acordar. Peguei um copo e servi um
pouco de água e me sentei na bancada que ficava de frente para a sala de jantar
do Bruno. Fiquei com as mãos na cabeça e de repente lembrei que ainda não tinha
visto nada em relação ao que eu vim de fato fazer aqui e eu só tinha mais oito
dias para resolver tudo. E iria começar de hoje!
Larguei o copo na pia e dei de cara com o Bruno, levei um
susto e isso fez minha cabeça latejar mais ainda.
- Bom dia meu amor! – Ele disse todo carinhoso e eu sorri.
- Bom dia Bru! – Respondi e fui a sua direção. Seus cabelos
estavam meio bagunçados, e seu rosto pouco amassado, mas havia sinal de água em
seu rosto ainda.
- Que carinha é essa? – Ele toca meu rosto.
- Muita dor de cabeça! – Torço os lábios e ele ri.
- Não achou o remédio? – Pergunta e eu nego. – Bom, se
arruma para irmos tomar café que eu pego o remédio e te levo! – Bruno beija o
topo da minha cabeça e eu vou para o quarto de hóspedes.
Vesti a uma calça
jeans, uma camiseta cinza com o símbolo do Batman e nos pés o vans cinza
que comprei no dia que fui ao shopping com a Tory. Desembaracei meus cabelos e
fiz um coque soltinho. Coloquei a pasta de documentos da casa e todo o resto de
coisas úteis dentro de uma bolsa azul grande e pronto.
- LIV, TÁ PRONTA? – Bruno deu um grito quando eu estava
quase chegando na cozinha, onde ele estava, pus as mãos na cabeça e pedi para
ele não gritar. – Desculpa, desculpa e desculpa, não sabia que estava aqui!
- Não tem problema! Achou o remédio? – Pergunto e ele aponta
para o balcão ao lado da pia.
[...]
- Tem certeza que quer fazer isso mesmo? – Bruno estava
segurando minha mão enquanto eu abria a porta da frente da casa.
- Eu preciso, essa casa representa tantas coisas na minha
vida que eu não acho justo ela ficar fechada para sempre, outra família pode ter
a chance de ser feliz aqui como eu fui! – Explico e ele fica me olhando.
- Você poderia morar aqui, assim nunca a deixaria! – Ele diz
e eu viro para ele antes de abrir a porta definitivamente.
- Bruno, é complicado, é doloroso, não é porque eu fui feliz
que eu possa ser de novo aqui, nesse mesmo lugar. Eu não conseguiria, sufoca, mesmo que eu esteja bem com tudo que
aconteceu, não é a mesma coisa, eu tenho que fazer isso por mim, não há nada lá
dentro que deva ser meu, não mais! Existem coisas que devemos passar adiante,
remoer nem sempre faz bem – Respondo e ele parece entender o que eu quero
dizer, mas não fala nada, então viro-me de novo para a porta e abro-a.
Vários arrepios
passam pelo meu corpo todo e eu solto um longo suspiro, é, não será fácil. Dei
uma olhada na sala e decidi que ali só levaria comigo alguns retratos,
coloquei-os dentro de uma das caixas que trouxemos e fui na cozinha. Estava
tudo como antes, exatamente igual, mas nada que devesse ficar comigo dali,
então fui aos quartos.
- Liv, olha para mim!
– Ele estava seguindo meus passos e finalmente parou. – Tudo que você quiser
ficar, desde móveis a documentos é para deixar separado, tá bom? – Bruno
perguntou.
- Eu não quero levar nada de mais daqui, eu nem tenho onde
deixá-las, vou retirar apenas o necessário. – Respondo e ele nega.
- Não, vai levar o que acha importante e o que não quiser se
desfazer, vamos colocar tudo num dos quartos de hóspedes, espaço não será um
problema, não se preocupa! - Abri um
largo sorriso e continuei na direção que eu ia, do meu quarto e sim, se é o que
querem saber, estou evitando o quarto do meu pai, mas sei que vou ter que
entrar ali.
Não parecia que era
meu quarto, mesmo com muitas coisas minhas, era como se não fizesse mais parte
de mim, não de uma forma ruim, eu não sei explicar. Abri meu guarda-roupa e
comecei a olhar as poucas peças dali, eu não queria nada, não por desprezo, eram roupas que eu não usava nem quando ainda morava aqui. Peguei todas elas e
coloquei dentro da caixa, não era muita coisa. Na parte dos sapatos, eu optei
por ficar com tudo, a maioria estava em ótimas condições e eu sempre usava.
Tudo estava
separado, não tinha mais o que arrumar. Foram ao total de três caixas com objetos e sapatos que eu levaria para o Bruno e o resto iria para adoção.
Descemos as coisas e colocamos no carro.
- Eu nunca conheci pessoa mais forte do que você! – Bruno
falou encostando-se no carro. Ele passou a mão na testa e ficou me olhando.
- Por fora todos nós somos, a verdade é que eu estou me sentido
sem chão de novo, mas não quero que isso piore, então tento esquecer e digo
para eu mesma mil vezes por minuto que está tudo bem! – Nesse momento, uma
lágrima escorre.
- Eu sei como se sente, é difícil, eu queria fazer isso no
seu lugar, mas sei que por um lado é importante, vai ser bom você se livrar de
tudo e ficar com as boas lembranças. Eu não fui separar as coisas da minha mãe,
uma amiga da família quem fez isso, nós doamos as coisas e eu coloquei a casa
à venda, foi o certo, e você também está no mesmo caminho! Quero que não
reprima o que sente só porque eu estou aqui, quero que aja como se estivesse
sozinha e a diferença é que se precisar terá a minha ajuda!
- Eu sei, obrigada! –
Forcei um sorriso.
- Bom, vamos voltar ao trabalho para poder ir almoçar
depois. Essa é a parte mais importante! – Bruno se desencostou do carro e me
abraçou de lado para seguirmos juntos para dentro da casa.
Subi de novo aquelas
escadas e parei na porta do meu pai e abri-a sem pensar duas vezes, da mesma
forma que eu fugia eu precisava. Seu cheiro misturado um pouco com o mofo me
embriagava, ver tudo da forma que ele deixou me trazia diversas lembranças, como das noites que eu não conseguia dormir e exigia de forma engraçada que ele me cuidasse e ele sempre respondia a mesma coisa: "para sempre minha filha", então eu colocava a cabeça no seu ombro e me sentia a pessoa mais protegida do mundo..
Abri a janela e me sentei na cama para pensar onde eu mexeria primeiro, eram
tantas coisas...
Comecei por suas
roupas e sapatos, eu não ficaria com nada, então coloquei tudo em caixas.
Depois fui para o computador, que eu ficaria, desmontei-o cuidadosamente e
coloquei na caixa com folhas de jornal amassadas. Agora só faltavam as gavetas
de sua mesa, dei uma rápida olhada e peguei só a pasta com documentos, de resto
pagaria alguém para fazer.
- Está bem? – Bruno disse enquanto eu olhava umas folhas que
não me interessavam muito, virei para ele com os olhos cheios de lágrimas e
neguei. Eu nunca ficaria feliz me desfazendo das coisas de pessoas que eu amo.
- Isso é absolutamente a coisa mais dolorosa que já fiz na
vida. – Digo jogando os papéis no lixo. – Quero ir embora! – Continuo meio
manhosa.
- Acha que precisa guardar mais alguma coisa? – Ele pergunta
e eu nego. – Tudo bem, vai para o carro que eu termino.
- Já desço! - Eu disse e ele intendeu.
Me sentei na cama novamente e agarrei seu travesseiro em meio a algumas lágrimas. Eu não me arrependo das coisas que eu já fiz, mas será que eu era perfeita como ele queria? Será que eu consegui o orgulhar como ele planejava? Eu sempre fiz o que pude, mas será que era o necessário? As vezes eu fico em dúvida sobre as minhas atitudes, pois nem sempre o que é bom para um é bom para o outro, e se fosse assim com a gente? Eu nunca iria saber, bom, na verdade ele sempre disse que sim, mas se fosse só para me agradar?
Desde que eu optei vender a casa e me desligar de tudo aqui, não foi por mal e sim sobrevivência e pode ser que sim, que um dia eu me arrependa, mas por hora é tudo que eu posso e quero fazer. As vezes parece que nem me caiu a fixa de que tudo mudou de vez.
Respirei fundo e parei de olhar o nada, sequei meu rosto e levantei da cama, fechei as janelas, coloquei duas caixas empilhadas e saí do quarto, batendo a porta com dificuldade. A casa já estava toda fechada e o Bruno me esperava do lado de fora. Coloquei as coisas no carro e tranquei a porta da frente.
- Espero que outras pessoas possam ser felizes aqui! - Sequei meus olhos novamente e virei-me para o Bruno que me abraçou.
- Estou orgulhoso de você meu amor! - Ele beijou minha bochecha e eu forcei um sorriso sem mostrar os dentes.
Entramos no carro e eu fiquei olhando aquela fachada enquanto ele manobrava o carro. Era um adeus definitivo. Não sei se eu estava triste ou aliviada, mas tinha algo muito bom dentro de mim que me fazia achar que essa foi a escolha certa.
- Por favor, não digam que eu abandonei, eu disse que iria finalizar e vou, então por favor, mesmo que eu demore não pensem isso! Fico grata! (:
Chorei
ResponderExcluirChorei
e chorei mais um pouco.
Amiga isso não se faz :/
Muito triste, tadinha da Liv, continua pls
Ai :c ela precisava fazer isso mais cedo ou mais tarde, então foi bom agora! <3 Amei. Continua e não demora tanto assim :p dusiandoasndosa
ResponderExcluirEspero que ela não se arrependa depois ! #Continue ♥
ResponderExcluirCap doloroso,porém fofo
ResponderExcluir